Finais de cavalo são as vezes muito complexos. Em casos, mais que a técnica um conhecimento sutil dos recursos táticos que essa peça oferece é fundamental. Alguns "locais comuns" da prática desse tipo de finais podem-se ver no seguinte, jogado horas trás no torneio de Biel.
Esses "locais comuns" são:
* Na luta de cavalo contra peão livre, o mais difícil de conter é o peão torre -pode ser atacado somente por um lado-
* Peões passados são prioridade em todo tipo de final. A sua concretização justifica entregas de material.
* Um arma importante do cavalo é o xeque duplo, que lhe permite ganhar tempos.
Wang,Hao (2739) - Carlsen,Magnus (2837)
45th Biel GM Biel SUI (7), 30.07.2012
[Notas do MI Luis Rodi]
Até aqui, o jogo tinha-se desenvolvido de forma relativamente equilibrada, com as brancas mantendo sempre a iniciativa desde uma Índia de Dama variante Nimzowitsch (4...Ba6) onde as brancas entregaram um peão na ala de dama a cambio de peças mais ativas. A posterior simplificação se produz oferecendo ao primeiro jogador um peão livre na coluna b
46.Cdb2?
Um sério erro de concepto. Primeiro porque perde um tema tático simples, porém fundamentalmente porque em posições deste tipo peões livres devem ser avançados! -para restringir as possibilidades adversárias e deixar suas peças passivas na vigilância desse peão-; 46.b6 é a continuação lógica, onde 46...a3 47.Cc1 Rf8 deve permitir às pretas o empate; uma possível continuação é 48.b7 Re7 49.e5 Cd5 50.Cxa3 Rd8 51.Cb5 Cb4 52.Cd6 f6 53.exf6 gxf6 54.Cf7+ Rc7 55.Cxh6 Rxb7 e a divisão do ponto é o resultado mais lógico
46...Cb6!
Revelando as dificuldades dos cavalos brancos para conter ao seu pior inimigo: o peão torre. Evidentemente Wang Hao perdeu este lance, e agora a sua posição é inferior: o seu peão livre fica bem bloqueado enquanto o das pretas é muito perigoso
47.Rf2
O peão não pode ser impedido de promover em caso de 47.Cxb6? a3–+
47...Cfd7 48.Re3 Rf8 49.f4 f5 50.exf5 exf5 51.Rd3 Re7 52.Ca3 Cf6 53.Cbc4 Cxc4 54.Cxc4 Ce4 55.Ce5 Rd8 56.g4
56...fxg4! 57.Cxg4
A escolha do mestre chinês, que perde de forma prosaica, priva ao público de apreciar o seguinte sutil detalhe: 57.Rxe4 a3 58.b6! (58.Cc6+ Rd7 59.Ca5 c4!–+ é especialmente bonita) 58...a2 (ou 58...Rc8 59.Rd5 Rb7 -única: outros lances permitem arrumar uma rede de mate em favor das brancas- 60.Cd3 a2 61.Cxc5+ Rxb6 62.Cb3 h5–+) 59.b7 Rc7 60.Cd7 Rxb7 61.Cxc5+ Rb6 62.Cb3 -com ajuda do xeque duplo as brancas ganharom os tempos necessários para deter ao peão livre preto, porém...- 62...h5!
As pretas vão agora contra o cavalo, passo prévio à promoção. O rei branco está como o asno de Buridan:
se ele vai ajudar ao cavalo, então os peões pretos na ala de rei avançam de forma decisiva, porém se se mantém na ala de rei, por exemplo na linha 63.f5 h4 64.Rf4 as pretas ganham no setor oposto: 64...Rb5 65.Rxg4 Rc4 66.Ca1 Rc3 67.Rxh4 Rb2 68.Rg5 Rxa1 69.Rg6 Rb2 70.Rxg7 a1D 71.f6 Rb3–+
57...Cd6 58.b6 Rc8 59.Ce3 Rb7 60.Cd5
60...Rc6 0–1
Após esta astuta condução do final, utilizando os recursos que a posição e as caraterísticas das peças ofereciam, Carlsen está na liderança no torneio de grandes mestres de Biel
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