sábado, 3 de novembro de 2012

Um final de torneio para alugar palcos


SEMIFINAL 1 DO CAMPEONATO BRASILEIRO: CRÔNICA DA RODADA 6
Pelo mestre internacional Luis Rodi

Nesta altura dos fatos, e ainda quando o torneio deve finalizar amanha, há que destacar a escolha de alojamento dos organizadores (a Federação de Xadrez de Espirito Santo, na figura de seu presidente Jonair Pontes e o vicepresidente de marketing, Claudio Ferreira). O hotel SESC em Guarapari –com uma estrutura que lembra muito os famosos campus universitários dos Estados Unidos- se está mostrando um cenário certo para um torneio de esta categoria. Os quartos, sem ser luxuosos, são amplos e limpos; as comidas estão bem planejadas com um equilíbrio nutricional evidente (e de boa qualidade). O único déficit é na área de internet –um problema comum nos hotéis deste porte-. A sala de jogo, como já escrevi, é cômoda, bem iluminada e com espaço adequado entre as mesas, que para esta oportunidade se distribuíram em dois setores, divididos por uma grande coluna: no setor esquerdo estão as primeiras nove mesas, enquanto as restantes se repartem no setor direito.
Entre as mesas, olhando tal o qual posição é comum ver ao presidente da Confederação Brasileira de Xadrez, Pablyto Robert (e depois das rodadas jogando blitz com os árbitros). Aqui ele está além disso como diretor da prova, honra que fez deixar por uns dias seu trabalho de advogado do principal jornal de Vitória, a capital do estado de Espírito Santo (distante 51 kms. da cidade sede do torneio). Pablyto -um grande apaixonado pelo xadrez- foi o presidente da FESX antes de ser eleito como titular da CBX; de certo modo a realização desta semifinal no seu estado é também um logro seu.

Nos tabuleiros, o dia de chuva aporta para alguns empates mais ou menos rápidos –o mais veloz na mesa 1 entre Krikor Mekhitarian e Diego Di Berardino- e, nas principais mesas, outros bem mais longos, como o de Everaldo Matsuura com Luiz Abdalla –um dos últimos jogos em finalizar-. A tendência segue sendo de resultados abertos: tudo pode acontecer.
Quem melhor aproveita suas chances é o mestre internacional Evandro Barbosa, quem ao vencer sobre o seu colega Christian Toth se converte –pela primeira vez na prova- no líder isolado. Habemus Papam.
 
Barbosa,Evandro Amorim (2407) - Toth,Christian Endre (2360)
Guarapari  (6.2), 03.11.2012
1.e4 c5 2.Cf3 d6 3.Bb5+ Bd7
 
Considerada a linha mais sólida contra a variante Moscou escolhida pelas brancas
 
4.Bxd7+ Dxd7 5.c4
 
A opção posicional, criando um esquema Maroczy onde a peça problemática das brancas -o bispo de casas claras- não está no tabuleiro. As brancas podem jogar também de forma "mais siciliana" com 5.0–0
 
5...Cc6 6.Cc3 g6 7.d4 cxd4 8.Cxd4 Bg7 9.Cde2
 
Esta retirada é a principal alternativa a linha principal 9.Be3, e está dando bons resultados estatísticos ás brancas
 
9...Cf6 10.f3 0–0 11.0–0 Tac8
 
11...a6 é também uma escolha usual dos condutores das pretas aqui
 
12.Bg5 h6 13.Bh4 g5 14.Bf2 e6
 
 
A novidade, possivelmente começando preparar ...d5 –eu suspeito que Toth está jogando sob influencia da partida Caruana – Anand, São Paulo 2012, copiando o plano do campeão mundial-. O problema é que as pretas não vão ter tempo disso... O antecedente é 14...Ce5 15.b3 Cg6? 16.Bxa7± Jiravorasuk - Ergehi, Bled ol 2002. As pretas, claro, podem melhorar com 15...a6; 14...g4!? entretanto, merece atenção
 
15.Dd2 Tfd8 16.Tfd1 De7 17.Tab1 b6 18.b3 Td7 19.Cd4
 
Com mais espaço e peças harmonicamente dispostas, a posição branca é preferível, porém as pretas têm suficientes recursos defensivos
 
19...Ce5 20.a4 Cc6 21.Cxc6 Txc6 22.Bd4 Ce8 23.Bxg7 Rxg7 24.De3 Tc5 25.Td2 Df6 26.Tbd1 De5 27.Td3 Tc8 28.Rh1
 
As brancas manobram com paciência. Considerando que a sua estrutura é melhor, os lances dão oportunidade às pretas para comprometer sua posição
 
28...f6?!
 
E o momento chega. O lance de peão enfraquece a formação preta. Talvez 28...Cf6!? seja a escolha mais adequada
 
29.Ce2! Rf8 30.Cd4±
 
 
As brancas ganharam a luta pela iniciativa no centro
 
30...Re7 31.g3 Tc5 32.Tg1
 
32.f4! de imediato teria sido forte; depois de 32...gxf4 33.gxf4 Dh5 as brancas têm posição estrategicamente ganha com 34.f5
 
32...Tc8 33.f4 Dc5 34.Df3 Cg7 35.f5 e5 36.Cc2 d5!?
 
Uma tentativa de contrajogo; 36...Rf7 37.Td5± é muito cômodo para o primeiro jogador
 
37.exd5 h5 38.Tgd1 g4 39.De4 Df2 40.Ce3
 
40.Cd4!? é também possível
 
40...Df3+ 41.Dxf3 gxf3 42.Rg1 Rd6 43.Te1 Te8 44.Rf2 e4 45.Td4 Tde7 46.b4+-
 
 
A maioria branca ganha protagonismo. Considerando que ela é de 4:2, a posição preta é delicada, possivelmente além de toda salvação
 
46...a5 47.c5+ bxc5 48.bxc5+ Rxc5 49.Tc4+ Rd6 50.Tc6+ Re5
 
50...Rd7 51.Tb1+-
 
51.d6 Tb7 52.Td1 Cxf5 53.Td5+ Re6 54.d7+ Rf7 55.dxe8D+
 
Um belo trabalho posicional do condutor das brancas 1–0
 
As chances de Evandro agora são boas; lhe deve alcançar um empate, porém há que ver se seu adversário concorda –o desempate não é uma ciência exata, e o meio ponto pode não alcançar para a classificação de Mendonça-. Vamos ter, pois, uma última rodada emocionante, com a maioria das partidas nas primeiras mesas se jogando. A matar ou morrer. Dez enxadristas, dependendo alguns de uma série de resultados favoráveis, têm ainda esperanças de acessar a final. Entre eles, os seis primeiros pré-classificados.
Como de costume, o leitor pode ter a informação ao minuto, no site da chess-results:
O emparceiramento, resultados a medida que vão finalizando os jogos, as mesmas partidas ao finalizar a prova e as posições.

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