quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Como Capablanca, porém diferente...


SEMIFINAL 1 DO CAMPEONATO BRASILEIRO: CRÔNICA DA RODADA 1
Pelo mestre internacional Luis Rodi

Claudio Ferreira, natural de Rio de Janeiro, mas morador de Guarapari faz quase vinte anos, onde se desempenha na função pública na área de turismo, é o encarregado de dar as boas vindas aos participantes. Não é uma tarefa desconhecida para ele, já que seu amor pelo xadrez levou-o a organizar, alguns anos trás, uma serie de torneios magistrais com participação de mestres estrangeiros, entre eles quem você os escreve. Muito do fato de ter ganhado Guarapari o direito a sediar esta competência se deve ao seu trabalho, que é importante também na Federação Espirito Santense de Xadrez (FESX) –onde é o vice-presidente de marketing-, a organizadora oficial da prova. Ao seu lado esquerdo, Jonair Pontes, o presidente da instituição e residente da Santa Maria de Jetibá que tanto está fazendo pelo xadrez escolar. Na direita, o árbitro internacional Elcio Mourão, procedente de Mendes, RJ, que é a principal autoridade técnica do torneio. No extremo, outro árbitro internacional, que nesta oportunidade é o diretor da prova: Pablyto Robert Baiôco Ribeiro, que além de advogado reconhecido em Vitória é o presidente da Confederação Brasileira de Xadrez (CBX). Eles são os encarregados de receber aos quase quarenta participantes que, desde hoje, lutam pelas quatro vagas em jogo para a final da edição 79ª. do Campeonato Nacional.
O começo da prova oferece enfrentamentos que podam ser considerados desiguais: o emparceiramento funciona cortando a tabla de participantes em dois –de acordo a sua pré-classificação- e fazendo jogar ao primeiro de cada uma delas entre se. Isto é, o primeiro pré-classificado, grande mestre Krikor Mekhitarian, acaba enfrentando ao número 21 da prova, Guilherme Abreu (mas sobre este jogo depois). No entanto, alguns experimentados enxadristas com elo mais baixo sempre logram dificultar a tarefa dos mestres e por isso alguns jogos se fazem mais longos.
Entre os primeiros que ganham seu jogo está o capixaba Jorge Wilson da Rocha, que é irmão de um dos mais queridos, preocupados e talentosos médicos de Rio de Janeiro –também ele amante do xadrez, não sei se dedicou mais horas à formação dos segredos de Hipocrates que aos de Lasker, Petrosian, Kasparov e Cia-. O seu jogo de agora me faz lembrar uma velha anedota em Argentina, quando eu era muito novo e participava dos torneios de xadrez realizados na costa atlântica desse país. Em um deles, se me acerca um dos melhores enxadristas da zona, o arquiteto Mario Mazur, e me diz: “Não sei por que perdi, eu joguei a Caro Kann seguindo uma receita de Capablanca... trocamos bispos de cor clara, fiz xeque com dama em a5 e depois disso cambie essa peça desde a6 para deixar suas casas brancas fracas”. O detalhe era que Capa quando fez isso se assegurou de ter um cavalo em b8 para recapturar em a6, enquanto meu amigo teve que tomar com peão e assim estragar toda a sua formação na ala de dama... o mesmo que acontece na partida que segue:
Rocha,Jorge Wilson (2221) - Arruda Filho,Ivo (1849)
Guarapari (1.12), 01.11.2012
 1.e4 c6 2.d4 d5 3.e5 Bf5 4.Ce2 e6 5.Cg3 Bg6 6.h4 h5?! 7.Bd3 Bxd3 8.Dxd3 Da5+ 9.c3 Cd7
Curiosamente, aqui 9...Da6 teria dado uma versão correta do plano de Capablanca
10.Cd2 c5 11.0-0 cxd4 12.cxd4 Da6?!
A posição das brancas já é algo melhor, porém este lance dificulta as coisas ainda mais; 12...Ce7!? 13.Cf3²
13.Dxa6 bxa6 14.Cf3
A melhor estrutura branca faz diferencia, como naquela velha partida de Mazur
14...Ce7 15.Bd2 Tb8 16.b3 Cc6 17.Tfc1 Tc8 18.Tc2 Be7 19.Tac1 Cdb8 20.b4!
O primeiro passo para o aproveitamento da cravada
20...g6 21.a3 Rd7 22.Ce2 f6?
Um novo enfraquecimento, esta vez decisivo 22...Tc7 23.Bg5 Thc8 era a possibilidade de maior resistência
23.Bf4 fxe5 24.Bxe5+- Thg8

Agora as brancas ganham com uma manobra de distração
25.Bxb8 Cxb8 26.Ce5+ Rd6 27.Txc8 1–0
Um dos últimos jogos em finalizar foi o disputado na mesa 1, com Guilherme Borges enfrentando Krikor Mekhitarian. O grande mestre achou uma digna e forte resistência do seu menos conhecido adversário, que durante grande parte da luta manteve o equilíbrio.
Abreu,Guilherme (2085) - Mekhitarian,Krikor (2524)
Guarapari (1.1), 01.11.2012
1.d4 Cf6 2.c4 e6 3.Cc3 Bb4 4.e3 0–0 5.Bd3 d5 6.Cge2 b6 7.0–0 Bb7 8.cxd5 exd5 9.Cg3 Te8 10.Cf5 g6 11.Ch6+ Rg7 12.Cg4 Cbd7 13.f4 Cxg4 14.Dxg4 Cf6 15.Dh4 Be7 16.f5 Ce4 17.De1 Bh4 18.g3 Bf6 19.Cxe4 dxe4 20.Bc4 c5 21.dxc5 Tc8 22.fxg6 hxg6 23.Bd2 Txc5 24.Bc3 Tf5 25.Txf5 gxf5 26.Td1 Dc7 27.Bxf6+ Rxf6 28.Dc3+ Te5 29.Dd4 Re7 30.h4 Tc5


O momento crítico da luta

31.Dg7?

As brancas não vão ter compensação pela peça entregada. A incrível 31.b3! no seu lugar merecia séria atenção, por exemplo 31...Dxg3+ 32.Rf1 onde as pretas devem subministrar xeque perpétuo. As brancas ameaçam com mate em d8 e a defesa natural com 32...Dc7 é inferior por 33.Dg7±. Claro que as pretas podem tentar outras ideias, por exemplo 31...b5 32.Be2 Dxg3+ 33.Rf1 Td5 se bem que as consequências de 34.Dxa7 Txd1+ 35.Bxd1 não são claras.

31...Txc4-+ 32.Dg5+ Re6 33.Dh6+ f6 34.Dg6 Bd5 35.h5 Tc1 36.Dg8+ Re7 37.Dg7+ Bf7 0–1

Entre as surpresas da rodada –poucas, por certo- destaque para o empate de Vitor Carneiro contra o grande mestre Everaldo Matsuura. Este último chegou ter uma ligeira vantagem no meio jogo, porém não pode concretiza-la e os acontecimentos levaram a um final inofensivo com três peões de cada lado no mesmo setor do tabuleiro. Outro resultado surpreendente foi o empate entre o mestre internacional Roberto Molina e Klaus Gotz, no que foi o jogo mais extenso da rodada: mais de cinco horas de duração onde o primeiro tentou impor uma posição com torre e cavalo contra torre.

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