Pelo MI Luis Rodi
Não se pode começar esta crônica
de forma diferente as de alguns mestres e árbitros amigos que comentando de tal
o qual torneio fazem destaque especial da culinária regional. Neste caso é
totalmente imprescindível, pois uma das lembranças mais claras da prova que
este cronista vai ter é a moqueca de camarões –belamente feita- com direito a
vista ao famoso Pelourinho, o centro
motor e histórico da cidade de Salvador de Bahia, uma das cidades com mais
ritmo de Brasil e onde cada passo parece nos inserir num romance de Jorge
Amado.
A boa gastronomia, a praia, a
arquitetura pitoresca com as igrejas históricas, o elevador Lacerda e o Mercado; são uma constante de Salvador, e
os participantes do III Circuito CBX –etapa Bahia- disfrutamos de todos e cada
um dos dias e noites que lá aconteceram. A cidade, enorme e surpreendente, foi
o marco adequado para um torneio que vai se convertendo num clássico –penso: o
nordeste precisa de muitos torneios deste tipo, e não somente pelas normas, mas
também para que os enxadristas destacados de cada estado adquiram experiência-.
A prova se realizou entre os dias
7 e 13 deste mês no Hotel de Trânsito de Oficiais da Pituba, situado nesse
bairro. A organização correu por conta da Confederação Brasileira de Xadrez,
sendo o grande mestre Darcy Lima o diretor da prova. Dirigiu o árbitro internacional
Elcio Mourão, secundado pelo árbitro nacional Wilter Pereira Vieira e os árbitros
regionais Jorge Henri Labussiere, Gileno Rodrigues do Amaral e Gilberto
Oliveira e Silva.
O mestre internacional argentino Leandro
Perdomo foi justo vencedor com 6,5 pontos sobre 9 possíveis. As mesmas unidades
que o seu colega Yago Santiago porém com o detalhe de não ter perdido partida.
Quem assina finalizou na terceira colocação, a meio ponto dos líderes. Comecei
com muitos empates e uma derrota, mas uma sequência de quatro vitórias no final
me permitiu ascender nas posições.
Um dos objetivos fundamentais deste
tipo de provas é a possibilidade de acessar normas de títulos internacionais.
Na Bahia, o principal favorito para lograr uma delas era o mestre fide Paulo Jatobá,
que com 2427 de elo é o enxadrista mais destacado no estado. No entanto, Paulo
não teve um bom torneio e um par de resultados desafortunados lhe tirou da
possibilidade relativamente cedo. Igualmente, com 5,5 pontos alcançou a quarta
colocação, que compartiu com o mestre fide argentino Blas Pingas, de muito boa
atuação –chegou as últimas duas rodadas com chance de fazer a norma, porém ai
perdeu contra Yago-. Meio ponto abaixo deles se posicionou a grande mestre
cubana Yaniet Marrero, que nos últimos tempos vem progredindo muito no seu
xadrez e na capital bahiana obteve bons resultados como a vitória sobre
Santiago –mas também dos outros: inesperadas derrotas com representantes locais
privaram ela de um melhor resultado geral-.
Luciano Zallio e Mario Andrade Fiaes, dois dignos representantes locais |
No entanto, e sendo os citados
participantes habituais dos grandes torneios celebrados no Brasil, o leitor
pode ter maior interesse na atuação dos representantes baianos –exceção feita
de Jatobá, que já conta com participações em finais do campeonato brasileiro-.
Começo com Luciano Zallio -que com 4 pontos teve um torneio muito bom, obtendo
importantes vitórias sobre Jatobá e Marrero e um empate ante Perdomo- e Mario
Andrade Fiaes (2,5 pontos, também contabilizando um empate com Perdomo),
sinalados ambos os enxadristas como as revelações do torneio e pela sua
juventude como promessas do xadrez nordestino. A sua participação em torneios
deste tipo pode consolidar seu jogo e adicionar a experiência que eles
necessitam ao enfrentar em duras batalhas aos enxadristas de melhor nível. Como
os jogadores de sua força e idade, eles ainda cometem alguns pecados, como o
tratamento superficial das posições críticas –não se pode jogar a mesma
velocidade toda a partida- e uma dependência grande das possibilidades táticas,
porém os dois têm um bom futuro no xadrez, uma vez que tinham pegado a
suficiente experiência. O mesmo pode-se dizer do décimo colocado, Hebert de
Oliveira, um enxadrista que mora no interior da Bahia e que teve neste torneio
seu batismo de fogo. Os três jogaram de igual a igual com seus mais conhecidos
adversários, ao igual que o nono colocado, Adriano Barata, que superando todas
as limitações de seu estado de saúde –ele é cadeirante e tem problemas motrizes-
e o fato de ser um dos participantes mais veteranos –e com isso, sofre mais as
rodadas duplas, muito cansativas- mostrou um bom xadrez com base posicional.
Justamente o que falta aos mais novos.
Adriano Barata (foto Elcio Mourão) |
No final, merece destaque o trabalho dos
dirigentes da Federação Baiana de Xadrez, com seu presidente José da Paixão
Andrade e o vice-presidente Wilter Pereira Vieira, que fizeram até o impossível
para que todos os participantes nos sentíramos como na nossa casa. Há muita
dedicação e esforço no que eles fazem, e por isso quero fechar esta crônica
parabenizando-os por mais uma atividade de sucesso nesse belíssimo estado que é
Bahia. Obrigado amigos, a gente sempre vai quer voltar!
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