A segunda metade do match pelo título mundial entre Anand e Gelfand começou muito mais animada, talvez respondendo a novas políticas estratégicas: ambos os mestres experimentaram com originais disposições de peças, produzindo posições difíceis de avaliar e muito complexas desde o ponto de vista posicional, o que elevou o grau de risco e teve uma imediata consequência: dois jogos definidos.
O incremento no interesse do match chega justo a tempo, quando após os seis empates prévios algumas vozes se levantaram (dentre elas, a de Kasparov, que pareceu ter esquecido que no seu próprio match com Anand os primeiros oito encontros acabaram com divisão do ponto) criticando a soposta falta de disposição agressiva dos protagonistas do duelo em Moscou.
Como já mencionamos, um match pelo título mundial tem as suas próprias regras estratégicas, e o planejamento que se realiza é muito diferente a outro tipo de duelos enxadrísticos. A política da primeira metade -o menor risco possível- não produz resultados aos nossos protagonistas, tendo em conta que o nível -se bem que o campeão mundial aparece como favorito- não é tão disímil.
Nesta segunda parte do match, já no começo (jogos 7 e 8) observamos decisões estratégicas arriscadas, que levaram a jogos desequilibrados e com diferentes elementos aparecendo nas avaliações. A maior dificuldade na hora de estabelecer planos se complementou com a também maior tarefa de cálculo.
No anterior dia livre lembramos um dos ditados de Petrosian acerca de jogar interessante e com isso ter mais chances de perder. A equação pode-se demostrar utilizando os dois últimos jogos.
No jogo 7, Anand parecia se encaminhar ao equilíbrio quando realizou uma manobra estratégica original porém arriscada com o seu lance 18...Db8, permitindo o dobrado de peões na casa f6 -no entanto, as pretas tinham ao menos duas opções claras de cômodo equilíbrio, pelo qual a necessidade de jogar desse jeito é questionável-. Gelfand não aceitou o convite, realizando em seu lugar um plano estratégico claro que, de ter respondido bem Anand, não teria oferecido mais que alguma iniciativa. Porém o campeão mundial tentou um contrajogo fora do espíritu da posição com 23...g5? e acabou debilitando seriamente a sua posição. O resto do jogo foi excelentemente conduzido por Gelfand.
No jogo 8, o jogo original na abertura foi responsabilidade do desafiante, que em uma linha pouco usual surpreendeu com duas decisões originais porém muito arriscadas (8...Ch5 e 9...Bf6) desde que existiam alternativas mais simples e o desenvolvimento da sua ala de dama ficou para melhor oportunidade. Desde o ponto de vista teórico, a escolha de Gelfand está justificada pelas dificuldades brancas na hora de realziar uma disposição harmônica das suas forças -o rei ainda em e1 pode ser alvo no caso de uma rápida abertura de linhas-, e de fato o mestre israelí obteve uma posição de equilíbrio dinâmico. Porém no momento crítico, quando a pergunta central refería a possibilidade (ou não) de ganhar as brancas uma ligeira iniciativa, o desafiante cometeu um sério erro de cálculo (14...Df6?), comprometendo a sua dama de forma decisiva. Desapontado, Gelfand abandonou na hora (talvez algo prematuramente), concedendo ao campeão direto de assinar uma miniatura.
Realizados 2/3 do encontro, o equilíbrio se mantém (4x4), porém a luta ganhou um diferente visual. Com ambos os protagonistas arriscando mais desde o plano estratégico e produzindo posições sem a simetría estrutural dos primeiros jogos. A falta de quatro jogos, tudo pode acontecer.
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