Faz anos talvez um torneio não concitava tanta expectativa. O Candidatura que começa hoje em Londres tem todas as condições para se converter, como o similar de Zurich 1953, em uma prova de culto. Nos últimos tempos, somente os campeonatos mundiais de San Luis 2005 (vencido por Topalov) e México 2007 (o triunfador foi Anand) podem se comparar, pelo formato round robin (americano) e pela força dos protagonistas.
O Candidatura de Londres concita oito dos melhores enxadristas do mundo. Desde meu ponto de vista, as únicas ausências significativas -devidas á composição do ciclo- são as de Fabiano Caruana -o jovem italiano de meteórico ascenso-, o ex campeão mundial Vesselin Topalov, Sergey Karjakin e, talvez, Hikaru Nakamura. Porém os oito enxadristas presentes merecem todos a possibilidade de ganhar o direito a competir pelo título mundial e todos sem exceção exibem um historial impressivo.
Se é por elo e atualidade, três nomes se destacam do resto e nas publicações especializadas aparecem como grandes favoritos. O primeiro deles, Magnus Carlsen, com um plus sobre os outros dois. O grande mestre norueguês está atravessando uma fase excepcional que o levou a obter o rating elo mais alto da história, por acima de Kasparov e Fischer. Este ano obteve uma vitória enorme no torneio de Wijk aan Zee, com um 10/13 que equipara a melhor marca histórica da prova, justamente de Kasparov (no 1999). E tinha fechado o 2012 com vitórias no Chess Classic de Londres e a final do Grand Slam celebrada nas cidades de São Paulo e Bilbao. Carlsen está no seu melhor momento, e o presente Candidatura é a oportunidade para demonstrar que a sua era está chegando.
O máximo adversário do jovem norueguês, desde minha óptica, é o ex campeão mundial Vladimir Kramnik, que depois de perder o título para Anand em 2008 reagrupou forças e de forma devagar porém constante está voltando ao seu melhor nível. Em provas como a presente, onde os nervos e a psicologia jogam um papel importante, o mestre russo se fortalece e oferece o seu melhor. No citado Chess Classic de Londres que ganhou Carlsen, Kramnik lutou até o fim pelo primeiro lugar, mostrando que é um adversário muito duro, e os encontros entre ambos os mestres são sempre originais, interessantes e muito lutados. Um dado não menor é que Kramnik é o único participante que tem placar favorável sobre os outros (por exemplo, seu placar com Carlsen é de +4 =10 -3).
O terceiro favorito é o armênio Levon Aronian, que junto aos dois mencionados completa o seleto clube dos enxadristas que hoje ultrapassam os 2800 elo. Seu estilo posicional - agressivo, de base sólida, é especialmente útil neste tipo de provas todos-contra-todos. Nos últimos tempos, além de força prática ele vem mostrando um jogo original e muito empreendedor, realizando experimentos que podem indicar que o mestre armênio está em caminho de chegar a um novo e superior nível.
Dificilmente as crônicas colocam aos outros participantes -Teimour Radjabov, Vassily Ivanchuk, Alexander Grischuk, Peter Svidler (foto) e Boris Gelfand- no sitial de favoritos. No entanto, há que considerar que cada torneio é uma história diferente e uma boa fase de algum deles pode o levar ao topo da onda. Pense somente no anterior candidatura, realizado na cidade russa de Kazan. Aronian, Kramnik, Grischuk, Kamsky, entre outros favoritos, ficaram finalmente trás o vencedor, Boris Gelfand. O formato era diferente -matches por eliminação direta- porém igualmente o presente torneio está aberto a possíveis surpresas. A diferença de elo não reflexa exatamente o que pode acontecer no tabuleiro, e posso assegurar que cada meio ponto de pretas vai valer ouro nestas condições. é importante, porém cada um dos participantes está em Londres pensando em ter o torneio da sua vida, sem medo dos adversários e não pensando em um honorável lugar na metade da tabla: para os oito gladiadores, somente uma colocação final tem senso: aquela que os deixe cara a cara com o atual possuidor do título, o indiano Viswanathan Anand.
Pelo nível dos participantes, pelo enorme xadrez por eles desenvolvido na sua carreira, estamos ante portas de um torneio excepcional.
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