Magnus Carlsen (esq) vence sem se preocupar demasiado pelo resultado da abertura... |
Escreve o MI Luis Rodi
Mais quatro rodadas aconteceram desde o balanço feito previamente, alcançando um total de oito. Se a grande figura dessas primeiras quatro foi o campeão mundial Viswanathan Anand, o protagonista desta segunda série de jogos foi o número 1 do elo, Magnus Carlsen, que é o líder isolado da prova, com meio ponto a mais que o mestre indiano.
Carlsen consolidou a sua liderança após vencer em maratonica partida a Sergey Karjakin na última rodada. Como mencionara no anterior balanço, o norueguês ganha no meio jogo, sem se preocupar pelo resultado da abertura, fase na qual emprega diversas ideias com grande flexibilidade, porém não nas linhas críticas da grande teoria. Assim, no jogo citado ele empregou uma linha não muito ambiciosa da Reti -mas não sem veneno: a linha foi empregada com grande sucesso pelo russo Loginov- e os acontecimentos pareciam levar à divisão do ponto quando promediava o jogo. No entanto, algumas imprecisões de Karjakin permitiram primeiro um final algo melhor (torre e bispo por lado, estes últimos de diferente cor, sendo o de Carlsen mais ativo e agressivo) e depois uma forte iniciativa a través de uma interessante entrega de peão que, se tivesse sido bem respondida teria levado somente ao empate. Em apuro de tempo, o russo não achou a melhor continuação e acabou em uma posição desesperada com dois peões livres por lado -mais o material antes citado-. O detalhe é que o rei de Karjakin se achava no caminho dos peões e sob fogo cruzado das peças adversárias. Impossível resistir. Carlsen arrematou com elegância utilizando a iniciativa para obter a passagem a um final de bispos ganho.
Os recursos de Carlsen são simplesmente extraordinários, e de certa forma revolucionam o xadrez, matando aquele conceito que assegura que estudo por-menorizado das aberturas é decisivo na sorte do jogo. Contra ele você pode equilibrar sem problemas na abertura após decorar toneladas de lances e... depois perder sem saber porque!
Os modernos mestres dão demasiada importância á abertura? Eles tem perdido a força prática em aquelas posições de meio jogo lutado e final sutil que exibiam mestres como Lasker Capablanca, Alekhine ou Botvinnik, por citar só uns poucos? O elo é maior (eu penso que fruto da inflação) porém o jogo é também maior? Conhece um top ten atual mais xadrez que o que conhece Ulf Andersson, Lajos Portisch ou Jan Timman? São os tempos de jogo mais rápidos os responsáveis deste enfoque onde a abertura tem a prioridade?
Boas perguntas, e cada enxadrista tem a sua própria opinião sobre o tema, que de qualquer jeito é interessante na hora das conversas.
Em Wijk aan Zee, Carlsen está mostrando que não depende de memorizar variantes de abertura, e que desde uma posição equilibrada pode jogar a ganhar utilizando recursos típicos de meio jogo -por exemplo, incremento de pressão quando o adversário está com pouco tempo-.
No segundo lugar, o campeão mundial espera por uma chance. Anand vem mostrando um bom xadrez -o seu melhor nos últimos meses- e está somente a meio ponto abaixo de Carlsen.
Destaque para a recuperação de Levon Aronian, após um começo ruim. E para o espírito de luta de Hikaru Nakamura, que compartilha a terceira colocação com o mestre armênio.
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