Magnus Carlsen (foto) foi o legítimo vencedor na 75a edição desta tradicional prova, hoje a mais importante do mundo no campo privado (isto é, fora das competências oficiais da FIDE).
Os extraordinários 10 pontos sobre 13 possíveis do número 1 do rating elo (+7 =6) igualaram a melhor marca histórica da prova, em poder do ex campeão mundial Garri Kasparov que fez os mesmos pontos na edição de 1999.
O mestre norueguês fez a diferencia na segunda parte da prova, com uma vitória chave na oitava rodada contra Sergey Karjakin, no momento onde ambos os mestres discutiam os primeiros lugares.
O approach de Carlsen foi também extraordinário e nisto muito diferente ao de Kasparov. No enfoque do atual campeão de Wijk aan Zee as aberturas não foram a parte fundamental do jogo, e obter nelas uma vantagem não foi decisivo para obter depois os pontos; pelo contrario, o emprego de linhas secundá-rias (como a variante 6.g3 contra a Kalashnikov de Nakamura na rodada 12) ou aberturas consideradas inofensivas (como a Ponziani utilizada para vencer Harikrishna) nunca foi obstáculo para, desde posições equilibradas porém complexas, jogar a ganhar utilizando recursos típicos do conhecimento de meio jogo e final.
Em Wijk aan Zee, Carlsen demonstrou que está numa fase excelente, e que vai ser um grande candidato ao título mundial, começando pela sua participação, no próximo més de março, do torneio candidatura que acontecerá em Londres.
A poucas rodadas do final, e quando ficou claro que nenhum iria tirar o primeiro lugar das mãos do norueguês, a questão principal passou ser quem resultaria segundo. Dentre os possíveis candidatos, Levon Aronian foi o mais regular, e merecidamente conquistou essa praça.
Há que destacar o valor anímico deste logro, com base em dois fatores que poderiam ter derrubado qualquer um: o começo duvidoso (1½ em 4) e uma muito dura derrota ante Anand.
O campeão mundial, justamente, chegou na terceira colocação, após fazer o seu melhor torneio dos últimos tempos, apenas estragado pela derrota na última rodada contra Wang Hao. Anand deixa esta edição com a satisfação de ter criado, no seu jogo contra Aronian, uma verdadeira joia, uma obra de arte que no futuro vai ser colocada ao lado de miniaturas como a Morphy - Duque de Brunswick e conde Isouard ou a mesma Imortal de Adolph Anderssen.
Anand compartilhou finalmente a ter-ceira colocação com Sergey Karjakin, que depois de um muito bom começo teve uma baixa de nível na segunda fase da prova, se recuperando no final para alcançar o grupo dos líderes.
Peter Leko, quinto colocado, teve seu melhor torneio desde a sua volta ao xadrez magistral, com três vitórias, nove empates e só uma derrota, mostrando a sua solidez habitual e sua grande técnica.
No torneio B, grande tarefa de Arkady Naiditsch, porém também de quem compartilhou a primeira colocação apesar de não ter experiencia em torneios desta categoria: o húngaro Richard Rapport, que em diversos casos teve que se recuperar de derrotas inesperadas para continuar a luta pela liderança. Com força anímica singular, o jovem mestre superou esses momentos e finalmente teve seu premio.
11/13 foi, entretanto, a sensacional marca do italiano Sabino Brunello para acessar o primeiro lugar no torneio C.
Para finalizar, é bom destacar a cobertura do site oficial, com informação de qualidade, uma boa seleção de fotos, videos onde os protagonistas comentavam os jogos, etc. E também a decisão dos organizadores de continuar realizando o festival, que tem patrocínio da empresa Tata ao menos até 2015.