A recuperação do título de
campeão mundial é um negócio para poucos. Somente Alexander Alekhine e Mikhail
Botvinnik (este último duas vezes!) recuperaram o título em enfrentamentos
diretos. O primeiro vencendo a sua própria vontade; o segundo exibindo uma
determinação de ferro quando poucos apostavam na sua vitória contra adversários
mais novos. Grandes enxadristas como Wilhelm Steinitz ou Anatoly Karpov não o
lograram, como também não o logrou Viswanathan Anand neste match revanche contra
o prodígio norueguês Magnus Carlsen. A diferencia de idade, a motivação e o
estado são responsáveis gerais do resultado. Ao menos, aplicável a este duelo
que acaba de finalizar em Sochi.
Por que vai ser lembrado este
match? Primeiro, por ser o duelo que consolidou o reinado de Magnus Carlsen, um
campeão pragmático de excelente jogo posicional. O norueguês tem agora quase dois
anos de calma antes de volver a expor seu título, em novembro de 2016 ante o
adversário que surja do torneio Candidatura a se realizar em março desse ano.
Segundo, por ter sido a despedida
de um gladiador do tabuleiro em competições pelo título mundial. O que não
implica que Viswanathan Anand se despida do xadrez de alto nível. Não isso, mas
sim parece difícil que ganhe mais uma oportunidade para enfrentar a Carlsen: já
a sua vitória no Candidatura 2014 foi uma surpresa.
Além disso, outros destaques do
duelo que acaba de finalizar são: a soneca de Carlsen na partida 8 (alguns
acharam muito deselegante da sua parte; seria interessante conhecer hoje a
opinião de Anand ao respeito); o incrível duplo erro na partida 6, que pode ter
modificado a sorte do match; a fortaleza erigida por Anand no final de torre e
dois peões contra cavalo e quatro peões na partida 7; a excelente preparação
teórica mostrada pelos protagonistas em algumas partidas (Anand no Gambito de
Dama Declinado, variante Blackburne, na 3; Carlsen, na mesma variante, na 8,
são exemplos); a atmosfera tranquila do duelo –menos público e menos imprensa
que no anterior duelo de Chennai-; a boa transmissão ao vivo com os comentários
de Peter Svidler, Sopiko Guramishvili e convidados como Vladimir Kramnik e Ian
Nepomniachtchi (na parte inglesa da transmissão; o duelo também foi comentado
em idioma russo); por último, a consolidação do esquema de campeonato mundial
da FIDE, que depois de tentativas as vezes bizarras voltou ao sistema mais
razoável.
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