segunda-feira, 24 de novembro de 2014

A modo de balanço


A recuperação do título de campeão mundial é um negócio para poucos. Somente Alexander Alekhine e Mikhail Botvinnik (este último duas vezes!) recuperaram o título em enfrentamentos diretos. O primeiro vencendo a sua própria vontade; o segundo exibindo uma determinação de ferro quando poucos apostavam na sua vitória contra adversários mais novos. Grandes enxadristas como Wilhelm Steinitz ou Anatoly Karpov não o lograram, como também não o logrou Viswanathan Anand neste match revanche contra o prodígio norueguês Magnus Carlsen. A diferencia de idade, a motivação e o estado são responsáveis gerais do resultado. Ao menos, aplicável a este duelo que acaba de finalizar em Sochi.
Por que vai ser lembrado este match? Primeiro, por ser o duelo que consolidou o reinado de Magnus Carlsen, um campeão pragmático de excelente jogo posicional. O norueguês tem agora quase dois anos de calma antes de volver a expor seu título, em novembro de 2016 ante o adversário que surja do torneio Candidatura a se realizar em março desse ano.
Segundo, por ter sido a despedida de um gladiador do tabuleiro em competições pelo título mundial. O que não implica que Viswanathan Anand se despida do xadrez de alto nível. Não isso, mas sim parece difícil que ganhe mais uma oportunidade para enfrentar a Carlsen: já a sua vitória no Candidatura 2014 foi uma surpresa.

Além disso, outros destaques do duelo que acaba de finalizar são: a soneca de Carlsen na partida 8 (alguns acharam muito deselegante da sua parte; seria interessante conhecer hoje a opinião de Anand ao respeito); o incrível duplo erro na partida 6, que pode ter modificado a sorte do match; a fortaleza erigida por Anand no final de torre e dois peões contra cavalo e quatro peões na partida 7; a excelente preparação teórica mostrada pelos protagonistas em algumas partidas (Anand no Gambito de Dama Declinado, variante Blackburne, na 3; Carlsen, na mesma variante, na 8, são exemplos); a atmosfera tranquila do duelo –menos público e menos imprensa que no anterior duelo de Chennai-; a boa transmissão ao vivo com os comentários de Peter Svidler, Sopiko Guramishvili e convidados como Vladimir Kramnik e Ian Nepomniachtchi (na parte inglesa da transmissão; o duelo também foi comentado em idioma russo); por último, a consolidação do esquema de campeonato mundial da FIDE, que depois de tentativas as vezes bizarras voltou ao sistema mais razoável.

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