China obteve uma vitória histórica nesta 41a olimpíada de xadrez celebrada na cidade norueguesa de Tromso. É um logro inédito, considerando que nos fins dos anos sessenta o xadrez estava proibido nesse país (o governo de Mao-tse-tung o considerava demasiado ocidental). A metade da década seguinte China se afiliou á FIDE e lançou um ambicioso projeto denominado Grande Dragão que levou ao país a um notável crescimento, primeiro evidenciado na categoria feminina (com campeãs mundiais desde os anos noventa) e agora também no absoluto, com esta conquista olímpica.
Com dois grandes mestres com mais de 2700 elo (Wang Yue e Ding Liren), dois com mais de 2650 (Yu Yangyi e Ni Hua) e a jovem estrela Wei Yi, o time chinês venceu em oito encontros e empatou três, perdendo somente uma partida em todo o percorrido pela prova (Peter Leko derrotou a Wang Yue no primeiro tabuleiro do match que os chineses ganharam de Hungria pela mínima diferencia). Momentos decisivos: a vitória na rodada 8 frente ao então líder da prova, Azerbaidjão, e a vitória pela mínima diferencia ante França na penúltima rodada, quando os galos tinham alcançado na liderança aos chineses.
China soube pegar no momento certo e ganhar os duelos que tinha que ganhar. Foi a equipe mais regular, e obteve o ouro de forma merecida.
A prata foi para Hungria, que misturou no time enxadristas de grande experiência -como Peter Leko, Zoltan Almasi ou Judit Polgar, que anunciou o seu retiro do xadrez competitivo- com as novas estrelas como Richard Rapport ou Csaba Balogh. Para o xadrez húngaro -que tinha vencido a olimpíada de Buenos Aires 1978- um resultado importante.
Assim como a China, outro gigante asiático mostrou sua força em Tromso: me referro ao time da Índia, que com uma formação jovem e sem Anand pode obter a prata.
Relegado ao quarto lugar ficou o primeiro pré-classificado da prova, Rússia. Alguns cronistas consideraram um fracasso esta atuação -e sem dúvidas uma nova frustração depois de varias olimpíadas sem acessar o ouro-, mas também pode ser visto como uma prova do parelho que está o xadrez no nível magistral, com figuras aparecendo aqui é lá. Também se esperava mais de Ucrânia e fundamentalmente de Armênia, que defendia o ouro logrado em Istambul 2012. Outro time que ficou em dívida, por ser local e porque a sua pre-classificação era melhor, foi Noruega. Nem sequer a presencia do campeão mundial Magnus Carlsen ajudou aos nórdicos a aparecer entre os primeiros lugares; o prodígio decidiu esconder a preparação do olhar curioso de seu desafiante Anand e empregou linhas de segunda ordem, coletando duas derrotas, ante Naiditsch e Saric. Carlsen segue em dívida no que faz a atuações olímpicas, porém há que entender que dada a pré-classificação de Noruega, os adversários nem sempre são fonte de motivação -e também, não existe material preparado sobre eles como sem dúvida a equipe do campeão deve ter dos seus principais adversários-.
No que faz ao xadrez latino-americano, era previsível dado o desenvolvimento da prova que Cuba e Estados Unidos obtenham bons resultados -o sétimo lugar dos caribenhos merece destaque-, porém também tiveram boas atuações os times de Argentina e Perú (que finalizaram com os mesmos pontos que Brasil).
Dentro do mundo lusofalante, Brasil é o cômodo líder, mas também há que destacar a boa atuação de Portugal, que finalizou na 58a posição após ser o pré-classificado 75. Angola ficou na colocação 103, perto da sua pré-classificação, Moçambique no 126o lugar, algo menos do esperado.
Do torneio em se, pode-se indicar que este bem organizado, com uma sala de jogo ampla e uma cobertura no site oficial ótima (a melhor dos últimos tempos).
O ponto lamentável foi a morte de dois enxadristas, um deles na sala de jogo e durante a sua partida: Kurt Meier, de Seychelles, na última rodada, devido a um ataque cardíaco. Horas depois, apareceu morto na sua habitação de hotel o representante do time ICCD (organização que agrupa aos deficientes auditivos), o uzbeco Alisher Anarkulov.
A Olimpíada também vai ser lembrada por ter acontecido em forma simultânea ao congresso da FIDE onde Kirsan Ilyumzhinov reteve a presidência da entidade ao derrotar em forma ampla ao seu adversário Garri Kasparov.
A maior polêmica foi a que envolveu, antes do inicio da prova, à equipe feminina russa, que foi eliminada pela organização por não apresentar o listado em tempo -Rússia tomou os dias esperando uma definição na transferência de Kateryna Lagno, ex representante de Ucrânia-. O presidente Ilyumzhinov defendeu a posição russa, e depois de dias de tensão os organizadores voltaram trás a decisão, permitindo a participação do time que finalmente conquistara o ouro.
Rússia venceu a prova feminina de forma merecida, derrotando no match decisivo a China com vitória de Lagno sobre a campeã mundial Hou Yifan -com esto, penso, Kateryna começa a pagar os 20.000 euros que Rússia teve que pagar como compensação-. A queda na penúltima rodada contra Ucrânia não foi aproveitada pela China, que finalizou na segunda colocação, compartilhada com Ucrânia.
Pelo geral, a prova feminina não apresenta as surpresas que acontecem no torneio absoluto, e as favoritas se distanciam muito do resto dos países competidores. As primeiras equipes pré-classificadas ocupam os primeiros lugares, pelo qual se pode destacar a atuação do time de Cazaquistão, que finalizou na sexta colocação quando estava pré-classificado 17, com os mesmos pontos que Geórgia -uma potencia do xadrez feminino que acabou na quarta colocação-.
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