Crônica do Aberto do Brasil em Vitória
Pelo MI Luis Rodi
A capital espírito-santense voltou
albergar um Aberto de Brasil, e como acontecera nas edições prévias, a
organização foi destaque: todo bem feito, hotel de primeiro nível (o Quality
Aeroporto, que também sediava a prova) em um lugar perto da praia, sala de jogo
bem iluminada –com tabuleiro, jogos de peças e relógios digitais para todas as
mesas-, horários de jogo excelentes: as rodadas duplas foram as 14.00 e 19.30
hs. e a última rodada às 13.00 hs.; e importante preservar um tempo de descanso
entre as rodadas de um dia e outro; as vezes os organizadores colocam uma
rodada à noite e a seguinte... a manhã cedo, no que envolve um planejamento
ruim –não se pode fazer um bom xadrez dormindo quatro ou cinco horas somente-.
Esse aspecto já foi importante, sendo mais um acerto da FESX comandada por
Jonair Pontes que ajudou á configuração de uma prova modelo desde o ponto de
vista organizativo. Também destaque para o quadro arbitral, com o AI Pablyto
Robert como principal, bem secundado por Cassius Alexandre da Silva, o próprio
Jonair Pontes e Lindomar Tonini.
O gm Everaldo Matsuura levando as peças pretas no jogo contra Mateus Nakajo |
O vencedor foi o grande mestre
Everaldo Matsuura, que começou com notáveis 5 em 5 para depois administrar dois
empates, com o MI local Bittencourt e quem isto escreve. A sua vitória foi
muito merecida e teve pontos altos nos pontos que obteve contra fortes
enxadristas que acabaram nas primeiras posições, como Mateus Nakajo Mendonça e
Wellington Rocha. Com a sua característica modéstia, Everaldo vai dizer que em
algumas posições teve sorte... mas quem não tem sorte no xadrez? E o fato de
ter sempre as peças posicionadas da forma adequada, o rei sempre protegido e os
peões uniformemente formados é um raro talento que não tem muito a ver com a
sorte. Parabens grande mestre Matsuura por mais um merecido sucesso!
O MN bahiano Adriano Barata no seu jogo contra o MI capixaba Bittencourt |
Como acontece neste tipo de
competências realizadas pelo sistema suíço, acasos e azares e até a sorte no
emparceiramento determinam as vezes as posições finais (um fato que pode ser
observado no sistema de desempate Bucholz, que indica a força dos adversários
que teve que enfrentar cada jogador). Apesar disso, eu quisera mencionar os que
para mim foram os destaques da prova, começando pelo baiano Adriano Albiani
Barata, que com 2147 pontos elo se manteve nas primeiras mesas, obteve uma
vitória contra o MI Bittencourt e finalizou na sexta colocação, compartilhando a
quarta colocação. O caso de Adriano é representativo do ser humano vencendo as dificuldades
que a vida as vezes coloca: a causa de um acidente enquanto praticava natação,
o enxadrista baiano foi confinado a se locomover em uma cadeira de rodas, e
para anotar os jogos ele ata a caneta ao seu braço, fazendo todo o processo de
realizar o lance em forma muito devagar –os apuros de tempo, claro, são um
pesadelo para ele-. Triunfando sobre essas adversidades, Adriano desenvolveu um
bom xadrez em Vitória e seu sexto lugar -com cinco pontos sobre sete- é um mais
que merecido premio ao esforço. Bravo, mestre!
O mineiro Crisolon Vilas Boas (dir) no seu jogo pela sexta rodada |
Também é um canto à vida a
participação do mineiro Crisolon Vilas Boas, que enfrenta desafios não
inferiores aos de Barata: ele é não vidente, e para competir com seus adversários
deve manter na sua memoria as posições que vão se sucedendo na partida.
Enquanto essas ações se desenvolvem no tabuleiro principal, ele dispõe de um
mais pequeninho onde lhe está permitido mexer as peças para “ver” mediante o tacto
onde elas estão e elaborar as estratégias da luta. Quando o adversário indica o
lance por ele feito, Crisolon registra esse movimento e sua posterior resposta
em um gravador que leva em cada torneio. Logicamente, os árbitros estão
pendentes de forma especial do que acontece no seu tabuleiro. Outorgando o
enorme handicap de não poder visualizar o tabuleiro, o mineiro ainda obteve um
ponto e meio (este último meio ponto após mostrar conhecimento técnico da
oposição distante no final de rei e peão contra rei). Bravo, Crisolon!
O caso destes dois apaixonados
pelo jogo ciência -e de outros: Adriano não foi o único cadeirante da prova- pode ser resumido de forma notável com a frase que acompanhou
o site oficial do torneio: o xadrez não tem limites!
Vão minhas últimas linhas deste
artigo para a bela cidade de Vitória, que sempre nos recebe com sol, dias de
praia bons, gastronomia de primeira e a amabilidade ímpar da sua gente. Com
torneios assim, sempre a despedida é: até a próxima, amigos!
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