quarta-feira, 3 de abril de 2013

Londres 2013: o balanço final

Pelo MI Luis Rodi

Kramnik e Carlsen, no seu jogo pela rodada 9: empate, como no disputado na rodada 2 com as cores trocadas

O FIDE World Chess Championship Candidates, disputado na capital inglesa entre os dias 14 de março e 1 de abril deste ano, teve o brilho das grandes provas clássicas (pode se equiparar ao famoso Zurich 1953), pela qualidade dos participantes, pelo formato (a federação internacional acertou ao modificar o sistema e passar dos match por eliminação ao round Robin) e pelo dramático final, onde até último momento não se conhecia quem seria o desafiante do campeão mundial Anand.
No aspecto puramente competitivo, o torneio teve duas fases bem diferenciadas. Na primeira delas dominaram o torneio o máximo favorito, Magnus Carlsen, e Levon Aronian, e até certo ponto parecia que a prova podia se transformar em uma competência direta entre ambos os mestres. No entanto, na segunda fase da prova uma grande atuação de Vladimir Kramnik permitiu ao ex-campeão mundial ingressar no lote dos que lutavam pelo primeiro lugar, sucesso paralelo á queda de Aronian. O final foi um extraordinário combate entre Carlsen e Kramnik, com os dois mestres chegando ao final da prova com possibilidades de vitória. Em rodada dramática, os dois perderam seus jogos (!) e todo se definiu utilizando o sistema desempate que premiava a maior quantidade de vitórias (polêmico; eu teria preferido um match desempate de jogos rápidos).
Considerando a sua regularidade durante todo o torneio, Magnus Carlsen foi um justo vencedor. O norueguês mostrou a sua enorme força prática em posições de meio jogo e final (contrario a mestres como Kasparov ele não parece muito preocupado por obter uma posição vantajosa desde a abertura, pelo qual emprega linhas que não são as mais críticas), vencendo jogos que normalmente tinham destino de empate, como o da penúltima rodada ante Radjabov. Porém também venceu em grande forma a Gelfand (rodadas 3 e 10, com ambas as cores) e Svidler (rodada 6). As instancias finais do torneio deixam uma sombra de dúvida. O 1/3 (duas derrotas, ante Ivanchuk e Svidler, e a mencionada partida com Radjabov que devia ser empate) foi fruto do acaso, do cansaço, da tensão nervosa pela importância dos acontecimentos?
Independentemente dos episódios de um torneio pontual, o match que pelo título mundial vai sustentar com o atual titular, o indiano Viswanathan Anand –provavelmente em novembro, talvez na Índia, nos Estados Unidos ou Rússia- promete ser muito bom. A enorme força atual de Carlsen pode se ver equiparada pela maior experiência de Anand em encontros desse tipo, porém também se deve considerar que o campeão vem mostrando uma sensível baixa (com ondas de criatividade como a partida com Aronian em Wijk aan Zee) na sua atuação e resultados. Escrever que hoje Carlsen é favorito em proporção de 55% não é uma especulação ociosa. Em todo caso, pode ser o elemento motivador que o mais recente Anand parece estar necessitando.
Em Londres, Carlsen compartilhou o primeiro lugar com o ex-campeão mundial Vladimir Kramnik, que ao meu critério mostrou o melhor xadrez, desde o ponto de vista da mistura de criação e resultados. Foi especialmente bonita a sua vitória sobre Svidler (na rodada 8), exibiu grande técnica no seu jogo contra Grischuk (pela rodada 10) para desde uma posição equilibrada pressionar até obter um erro por resposta e realizou um original tratamento da sua abertura contra Gelfand (rodada 13). O mestre russo demonstrou que está à altura dos melhores enxadristas do mundo, e seu nome não pode ser descartado nas futuras edições deste tipo de competências.

Peter Svidler e um excelente terceiro lugar, a meio ponto dos líderes!
Extraordinária atuação de Peter Svidler, alcançando a terceira colocação a somente meio ponto dos vencedores. O varias vezes campeão russo teve um final de prova muito bom, com três vitórias (incluindo a da rodada final ante Carlsen) e um empate sobre quatro jogos, seguidilha que lhe outorgou o bronze. A sua labor em Londres supõe uma consolidação que deveria alavancar a sua carreira e o motivas para futuras experiências neste tipo de torneios.
De Levon Aronian se esperava mais, porém como aconteceu no anterior ciclo (o candidatura realizado em Kazan) no momento crítico os nervos lhe jogaram uma má passada e acabou perdendo pontos importantes. Fala muito bem dele que na circunstância onde a maioria seguiria na tendência da queda, depois de uma terrível derrota ante Kramnik o mestre armênio teve forças para acabar o torneio com uma excelente partida ante Radjabov e ficar a somente meio ponto dos líderes.
As atuações de Alexander Grischuk e Boris Gelfand foram dignas e representativas da sua força. O mestre russo mostrou a que deve ser a melhor novidade do torneio (o 12...Cxc4 no seu jogo contra Svidler). No caso do mestre israelita, era muito difícil que ele logre pela segunda vez consecutiva o torneio, mas teve partidas muito boas, como a da oitava rodada ante Radjabov.
Vassily Ivanchuk: vitórias sobre Carlsen e Kramnik
O sempre irregular Vassily Ivanchuk bateu todos os recordes nesta prova. Em muitos jogos perdeu por tempo, em outros utilizou planos de meio jogo duvidosos (como na sua partida contra Aronian pela rodada 10) mas foi o grande aguafiestas da prova ao vencer Carlsen primeiro e logo Kramnik na rodada decisiva.
Teimour Radjabov fechou a tabla de posições (sim, incluso nos torneios da elite há lanternas...) e sua declaração final ("Londres 2013 foi o pior torneio da minha carreira") exime de comentários.

Posições finais
1-2. M. Carlsen, V. Kramnik 8½; 3-4. P. Svidler, L. Aronian 8; 5-6. B. Gelfand, A. Grischuk 6½; 7. V. Ivanchuk 6; 8. T. Radjabov 4

Um comentário:

  1. Excelente comentário, sensato e equilibrado.
    Para o bem do xadrez mundial venceu carlsen,apesar de alguns contestarem e preferir kramnik.

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