Pelo MI Luis Rodi
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Kramnik e Carlsen, no seu jogo pela rodada 9: empate, como no disputado na rodada 2 com as cores trocadas |
O FIDE World Chess Championship
Candidates, disputado na capital inglesa entre os dias 14 de março e 1 de
abril deste ano, teve o brilho das grandes provas clássicas (pode se equiparar
ao famoso Zurich 1953), pela qualidade dos participantes, pelo formato (a
federação internacional acertou ao modificar o sistema e passar dos match por
eliminação ao round Robin) e pelo dramático final, onde até último momento não
se conhecia quem seria o desafiante do campeão mundial Anand.
No aspecto puramente competitivo, o
torneio teve duas fases bem diferenciadas. Na primeira delas dominaram o
torneio o máximo favorito, Magnus Carlsen, e Levon Aronian, e até certo ponto
parecia que a prova podia se transformar em uma competência direta entre ambos
os mestres. No entanto, na segunda fase da prova uma grande atuação de Vladimir
Kramnik permitiu ao ex-campeão mundial ingressar no lote dos que lutavam pelo primeiro
lugar, sucesso paralelo á queda de Aronian. O final foi um extraordinário combate
entre Carlsen e Kramnik, com os dois mestres chegando ao final da prova com
possibilidades de vitória. Em rodada dramática, os dois perderam seus jogos (!)
e todo se definiu utilizando o sistema desempate que premiava a maior quantidade
de vitórias (polêmico; eu teria preferido um match desempate de jogos rápidos).
Considerando a sua regularidade
durante todo o torneio, Magnus Carlsen foi um justo vencedor. O norueguês
mostrou a sua enorme força prática em posições de meio jogo e final (contrario
a mestres como Kasparov ele não parece muito preocupado por obter uma posição
vantajosa desde a abertura, pelo qual emprega linhas que não são as mais
críticas), vencendo jogos que normalmente tinham destino de empate, como o da penúltima
rodada ante Radjabov. Porém também venceu em grande forma a Gelfand (rodadas 3
e 10, com ambas as cores) e Svidler (rodada 6). As instancias finais do torneio
deixam uma sombra de dúvida. O 1/3 (duas derrotas, ante Ivanchuk e Svidler, e a
mencionada partida com Radjabov que devia ser empate) foi fruto do acaso, do cansaço,
da tensão nervosa pela importância dos acontecimentos?
Independentemente dos episódios de
um torneio pontual, o match que pelo título mundial vai sustentar com o atual
titular, o indiano Viswanathan Anand –provavelmente em novembro, talvez na
Índia, nos Estados Unidos ou Rússia- promete ser muito bom. A enorme força
atual de Carlsen pode se ver equiparada pela maior experiência de Anand em
encontros desse tipo, porém também se deve considerar que o campeão vem
mostrando uma sensível baixa (com ondas de criatividade como a partida com
Aronian em Wijk aan Zee) na sua atuação e resultados. Escrever que hoje Carlsen
é favorito em proporção de 55% não é uma especulação ociosa. Em todo caso, pode
ser o elemento motivador que o mais recente Anand parece estar necessitando.
Em Londres, Carlsen compartilhou o
primeiro lugar com o ex-campeão mundial Vladimir Kramnik, que ao meu critério
mostrou o melhor xadrez, desde o ponto de vista da mistura de criação e
resultados. Foi especialmente bonita a sua vitória sobre Svidler (na rodada 8),
exibiu grande técnica no seu jogo contra Grischuk (pela rodada 10) para desde
uma posição equilibrada pressionar até obter um erro por resposta e realizou um
original tratamento da sua abertura contra Gelfand (rodada 13). O mestre russo
demonstrou que está à altura dos melhores enxadristas do mundo, e seu nome não
pode ser descartado nas futuras edições deste tipo de competências.
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Peter Svidler e um excelente terceiro lugar, a meio ponto dos líderes! |
Extraordinária atuação de Peter
Svidler, alcançando a terceira colocação a somente meio ponto dos vencedores. O
varias vezes campeão russo teve um final de prova muito bom, com três vitórias
(incluindo a da rodada final ante Carlsen) e um empate sobre quatro jogos,
seguidilha que lhe outorgou o bronze. A sua labor em Londres supõe uma
consolidação que deveria alavancar a sua carreira e o motivas para futuras
experiências neste tipo de torneios.
De Levon Aronian se esperava mais,
porém como aconteceu no anterior ciclo (o candidatura realizado em Kazan) no
momento crítico os nervos lhe jogaram uma má passada e acabou perdendo pontos
importantes. Fala muito bem dele que na circunstância onde a maioria seguiria
na tendência da queda, depois de uma terrível derrota ante Kramnik o mestre
armênio teve forças para acabar o torneio com uma excelente partida ante
Radjabov e ficar a somente meio ponto dos líderes.
As atuações de Alexander Grischuk e
Boris Gelfand foram dignas e representativas da sua força. O mestre russo
mostrou a que deve ser a melhor novidade do torneio (o 12...Cxc4 no seu jogo
contra Svidler). No caso do mestre israelita, era muito difícil que ele logre
pela segunda vez consecutiva o torneio, mas teve partidas muito boas, como a da
oitava rodada ante Radjabov.
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Vassily Ivanchuk: vitórias sobre Carlsen e Kramnik |
O sempre irregular Vassily Ivanchuk
bateu todos os recordes nesta prova. Em muitos jogos perdeu por tempo, em
outros utilizou planos de meio jogo duvidosos (como na sua partida contra
Aronian pela rodada 10) mas foi o grande aguafiestas da prova ao vencer Carlsen
primeiro e logo Kramnik na rodada decisiva.
Teimour Radjabov fechou a tabla de
posições (sim, incluso nos torneios da elite há lanternas...) e sua declaração
final ("Londres 2013 foi o pior torneio da minha carreira") exime de comentários.
Posições finais
1-2. M. Carlsen, V. Kramnik 8½; 3-4. P. Svidler, L.
Aronian 8; 5-6. B.
Gelfand, A. Grischuk 6½; 7. V. Ivanchuk 6; 8. T. Radjabov 4